terceira margem

recolho a linha e ponho a isca - o meu molinete é do tipo albatroz armada 3000. lanço o anzol e chumbo, esse duo violento que te persegue no fundo, a sua morada. e eu na areia da praia, de pé sujo vendo a água passar, não arrisco chegar na margem, não sou mais sereia - eu não nado mais. e fico te buscando onde não vejo, passo a noite com a fogueira armada te esperando pra jantar.

que você não fisgue; que eu não tenha nunca que puxar.

2 comentários:

  1. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras.

    ResponderExcluir
  2. e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

    ResponderExcluir