queda livre

sentaram no banco e a trava desceu. ela do lado direito do canhoto, que é para os dois se sentirem mais livres. olharam pra frente e o trilho sumia a certa altura, quando foi que alguma coisa chacoalhou, quando foi que o carrinho começou o seu deslize. ainda não sabem quanto tempo dura esse percurso e volta e meia se perguntam porque foi que sentaram bem ali; nas primeiras quedas se olharam com repúdio, como quem culpa o outro pela geometria. agora tentam segurar o estômago com do in: palma com palma, dedos entrelaçados... suas mãos menos importantes acharam uma utilidade. pensam se algum dia vão parar de segurar com força as ferragens, estender os braços para cima e de olhos bem abertos olhar um pro outro enquanto giram pelo espaço.

o ombro ainda é tenso e já se olham com mais ternura. até agora, nenhum dos dois gritou pro maquinista frear esse motor.

Um comentário:

  1. a imagem dos dois girando com o pescoço entregue ao ar, fez meu corpo girar na tentativa de respirar este mesmo ar...

    mas acredito que os ombros sempre estara tenso nesta estranha caminhada com o outro, que nem é tão outro assim...

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