achei essa foto no álbum de uma amiga que fiz na última viagem, mariela gómez. acontece que quando ela tirou essa foto a gente ainda não se conhecia, só de vista. era o cerro san javier, em tucumán, norte da argentina. eu deitei na grama na frente do cristo pra passar o tempo. conheci a mariela umas horas depois, durante uma caminhada de 12km embaixo de um sol torturante, atrás de uma cascata. ela e o esteban foram uma espécie de miragem quando eu já tinha andado um punhado e perdido a noção do quanto, quando vi que não fui a única a recusar o ônibus. eu não estava perdida.
depois disso fomos juntos a taffi del valle, em que a falta de hostel por conta de superlotação no vale me fez intrusa na barraca deles, onde passamos a noite mais apertada da vida, porque éramos 3 em um lugar para 2 pessoas, mais as nossas bagagens imensas. e o frio. passei a noite mirando os dois dormindo. ali ela me mostrou na sua câmera uma foto linda que tirou em tucumán de uma anônima deitada na montanha. mas a anônima sou eu, eu disse. depois da próxima viagem, amaicha del valle, eu segui meu caminho sozinha, porque era disso que eu tava precisando, um tempo de silêncio, feito a foto que ela tirou.
em salta nos encontramos de novo e passamos mais dois dias juntas, subindo morro, descendo morro, contando mil e oitenta degraus, explorando a cidade, nadando em um deque, fazendo o almoço... e eu percebi que agora era ela quem precisava de um tempo sozinha. viagem tem dessas coisas, você sabe, e o que torna ela 'boa' ou não é perceber esse movimento interno que ela provoca na gente, nos outros. mariela continuou rumo ao extremo norte e eu fui parar a 22h dali, no oeste do país.
depois disso eu não vi mais a mariela, faz um ano, eu não sou de manter contato, nem ela deve ser. acontece que hoje eu tirei a caderneta de viagem da gaveta e encontrei o seu e-mail. e achei essa foto no seu álbum eletrônico. a foto linda da anônima que me representa tanto, não só porque sou eu, mas porque fala desse silêncio que todo mundo precisa uma hora e do tempo que as coisas têm. e ainda fala de san javier e seus morros que me abraçavam, e a vista de tucumán, que eu me lembro bem, a cidade distante. o sol ainda tava generoso e a brisa era boa, aquele momento meu, agora de outro ângulo. nosso.
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