uma valsa

há pouco a lu me ligou no almoço dizendo paula, a pina morreu, e foi. domingo passado a gente chorou junto a morte do roberto pereira, o cara mais incrível dos bastidores da dança no brasil, nosso professor, não só da pós, da dança, e isso é muito. a última coisa que ele me disse foi: eu sei que você vai se machucar, mas eu quero que você tente fazer isso com muita força, contra a parede. eu me deixei machucar, podia não ter sido. mas aquilo me deu a chance de construir, depois, uma cena que eu pude chamar de minha, que me exorcizou e muito mais que isso - e sem hematomas aparentes.

eu tinha um macacão rosa e o meu irmão um verde. meu irmão era meu parceiro de dança, de vida, de dança. a gente girava e abria de uma vez nossos macacões até eles não servirem mais nos nossos corpos crescentes... áu! michael se foi e não na gente, no nosso corpo que se fez dele também.

a pina morreu, uma espécie de heroína. em 2006 eu fui pra sampa ver "para as crianças de ontem, hoje e amanhã", espetáculo dela, a coreógrafa mais incrível. no intervalo, depois de uma hora e meia de espetáculo, ninguém teve coragem de levantar, até que os bailarinos pegaram o microfone e disseram descansem, daqui a pouco tem mais. no fim da terceira hora, foi a vez da minha mão dançar a dança mais exausta de paixão, de palma, de bravo, com essas tantas pessoas do meu lado dançando comigo também.

tem morte que bate mais doído. tem vezes que é plural.

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