abri o livro com os dedos curiosos, a visitar o templo-espaço dela que andava por aqui e eu pouco sabia.
(antes de tudo vou me defender, acusando que as palavras sempre me saem ensimesmadas, como um bumerangue que atiro e me concentro em sustentar o seu retorno.. e mesmo lançando ao ar livre do acesso digital, preciso desfocar de quem assiste, que é pra ter coragem de lançar de novo, por isso, pouco sabia dela).
e ela se apresentou e me contava da sua publicação enquanto eu escaneava na memória a sua existência, que achou um resultado de oito letras quando ela se disse Theodora. depois eu, com o livro em mãos e sem memória a mais do que o seu nickname e uma ideia trocada sobre Erykah Badu, percorri as páginas num espanto de uma noite.
acontece que eu senti nas mãos o chacoalhar de uma fita K7 com as músicas da Madonna; o vento batendo nos cabelos no passeio de carro com (meu) pai; ouvi de novo o som abafado dos corredores do colégio; senti a pressão do elástico do collant suado enquanto lembrava do perfil angulado e da risada volumosa da professora de ballet; configurei imediatamente (e antes de ter lido tudo) a figura do neto do poeta, que foi também meu amigo...
mais do que isso.
eu sei o que era buscar justamente o silêncio da capela, como era andar com aquela angústia por aqueles corredores, naquele tempo - e entendi agora que cada tempo é capaz de construir uma atmosfera; eu sei o que é descobrir que a palavra pode dar sentido às emoções quando tudo é tão confuso; eu sei o que é ser exemplar por fora e trincada por dentro...
e não sei como pude nunca a ter conhecido, além de oito letras de um nome inventado. onde eu estava, se não a via? o mesmo ambiente. o mesmo tempo. a mesma atmosfera. as mesmas pessoas. a melancolia. as percepções sincronizadas.
o espelho esconde o que está por trás do seu vidro e assim eu continuo ensimesmada, veja só. incapaz de dizer da sua literatura, com tamanha identificação. mas agora com este livro, com Andressa no mundo... eu fiquei maior.
I hear you call my name, and it feels like home.
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sobre No dia em que não fui, de Andressa Arce
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