tabacaria

foi sair de casa e tropeçou nos cadarços da bota, qual espanto ao mirar os próprios pés e ver que o laço interrompido eram raízes, dessas que o tempo produz com água, sol e algumas vitaminas essenciais. o rastro era feito de farelos de azulejo branco e uns quantos tons de giz de cera (aos domingos a casa anda com a etiqueta pra fora). o alcance da saia estava próprio para aquele novo passo? pensou no aproveito da pausa no chão. e riu. era ela mesma noutra época e já tinha aberto quantas vezes aquele portão branco, agora rajado de ferrugem (tempo, água e ar).. nunca descobriu ao certo a cor que combina com seus olhos inquietos, quem diria decidir alguma forma pra cobrir as pernas. desfocou a vista do micro (si e a saia), juntou os fios cultivados e atravessou a fronteira rumo à rua. o vento levantou os seus cabelos e tirou o pó da superfície.

foi a pele que sentiu primeiro esse movimento familiar. o improviso de fora em sincronia com o tumulto de dentro. como se todo o conteúdo emergisse pra espiar o que há de novo. aquelas raízes dos pés cresceram imediatamente entranhando no vazio óbvio que se formou e foi assim que começou a caminhada.

– meu amor, volto logo – gritou atravessando a avenida. o menino olhava de dentro do portão.

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