eu gosto é de blues, é o que me tira do chão, me derruba, sei lá, de quatro eu fico de cinco, na escala pentatônica que eu não tenho idéia do que é. comecei de criança, meu pai resolveu fazer aula de guitarra, sempre admirou os bluesmen, era na casa do edinho - o professor, e devia ser o único aluno que levava a filha de oito, nove anos pra ouvir tocar a música de quem vende a alma pro diabo e toda a conversa que rolava entre uma e outra. ali eu me acorrentei de algum jeito com a música, o clima que dela crescia, tão dama como eu e os homens todos chorando por ela, vagabunda, pelos dedos. unchain my heart é o que eu mais me lembro e tudo o que sobrou da memória do meu pai quando ainda pega a guitarra pelos punhos.
teve um dia que o edinho foi levar meu pai até o carro e perguntou, acho que constrangido por eu frequentar a sua casa: por que você não traz o seu filho? antes do meu pai responder que era porque ele não se interessava muito ou coisa que o valha, eu soltei é que ele gosta de ficar em casa batendo punheta. eu não sabia o que era bater punheta, mas achava que eles deviam saber. bem ali eu descobri gentilmente que não era assim que se falava, meu pai: paula, é "se masturbar" que se diz. depois de rir um bocado, o tal do edinho nunca mais disse nada quando eu aparecia por lá e apesar de eu saber que devia ter falado alguma coisa muito errada para a minha condição de criança meiga e querida, eu sentia que tava tudo bem. com o blues é assim, você faz um bocado de merda e sente que no fim tá tudo bem. foi bem ali que eu aprendi.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
"com o blues é assim, você faz um bocado de merda e sente que no fim tá tudo bem"
ResponderExcluirMuito boa definição.
hahah...
ResponderExcluir