no chuveiro me preparei para o acidente, sem perna, sem mão, sem braço, do que vinha nada é muito certo quando a fonte é intuição. de todo jeito, ainda dá pra dançar, pensei. tem tanta parte móvel, o corpo tem. no banco de trás do carro, ajeitei o enconsto da cabeça, pra amortecer melhor, você sabe. quem sabe desentorto meu nariz. com a cabeça viva eu saio dessa, é só amolecer: o mantra era pra saber derreter os ossos na batida. esperei a demora toda.
foi na volta a colisão. o telefone tocou no sinal que deu primeiro e disse que no meio da ultrapassagem a soja toda resolveu chegar antes também e jogou o meu carro pra fora da estrada - a odetta e o meu irmão. foram cinco piruetas, bailarina, e era ele me contando, desculpa, paula, ficou sem jeito, sem reparação. adiós, minha nega, você era chapa, segurou as pontas pra salvar joão. quando cheguei da viagem - a minha - ele abriu a porta intacto: tinha pernas, tinha braço. o pescoço tava doendo que era de tanto segurar a cabeça, e eu ri do nariz que continuava torto, os dois irmãos; sãos.
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leio como ficção.
ResponderExcluirconto bem produzido.
muy buena!
ResponderExcluirMuito bom.
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