eu podia sair correndo nessa madrugada, ladeira abaixo; podia pôr na boca meu lucky strike que de tão sortudo não acompanha o fogo de ser acendido; podia acordar a vizinhança com meus uivos, com meus uivos de cadela histérica que uiva a falta da sua anestesia.
mas hoje eu passo por aquela porta entreaberta e ponho as mãos nos bolsos da saia e engulo o silêncio com tanto sabor que a língua ressuscita mais e mais silêncio; e meus passos tão calmos pra chegar mais tarde no fim da noite que meu corpo se rende a esse lugar chamado sereno; e de algum jeito sacana a paz me encontra na esquina e esbarra no meu ombro esquerdo, quando eu desisto de olhar pra trás porque a madrugada há de ser piedosa e congelar todo o meu sangue antes do impulso para o próximo passo.
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