tava nos quarenta e oito do segundo, você sabe, o tempo. lá na gráfica, ainda, toda na expectativa deste último projeto do dia: meu, afinal (o fim da fila é um lugar justo para os milagres do santo de casa). e daí que a bolsa vibra no meu colo, fui lá ver qual é. mergulhei no saco e fui bem recebida por um troço fofinho, a blusa da última sexta-feira (vide a data de hoje); um aroma de hortelã do chicletinho esmagado (mas novo em folha) deixava mais fresco o ar daquele buraco esquecido. não, não era a agenda vibrando apavorada com a hora que é tarde, é tarde até que arde. ela, coitada, não tem muita chance comigo, nunca nenhuma passou do mês de maio, por maior que seja meu fetiche por papel, caderno e caneta. lá no fundo, fazendo um som metal com a moeda corrente, as de um real, que são um luxo, achei meu aparelho russo acenando um convite pra eu dizer oi, amiga, que saudade louca. mas daí que eu comecei a frase, me veio uma cruzada esquerda no queixo, moendo: - oi, tia paula, tô comendo um biscoitinho bem gostoso! ai, será que ela também é canhota?
eu vou ser rápida com isso, pra evitar um dramalhão. a mari sempre me foi atemporal, eu sei que ela tá lá comigo e eu to aqui, com ela. mas agora tem um medidor entre nós duas, um medidor de tempo perdido. eu devia ter imaginado que a sofia já formulava frases, mas não. eu queria ser a tia paula com quem ela tava falando. eu sou, em algum lugar que eu não compareço e eu tô perdendo. é tarde, é tarde até que arde. para quê, paula?
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